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Artigo

Vida e morte de um herói do 13 BC Capitulo IV

  • - No Boa Vista, em 1940 - Thomaz e Maria Francisca com os 11 filhos, genro e primeiro neto. Etelvino é o primeiro em pé à esquerda - Imagem fotografa há muitos anos sobre o vidro de moldura com câmera analógica e flash

Da redação - 7:25 hs - Em maio de 1940, aos 18 anos, Etelvino já havia se transformado no mais importante ajudante do pai, Thomaz Silveira de Souza nos serviços da olaria, no Boa Vista, tanto na função de oleiro, na produção de louças como nos serviços de forno e na entrega de louças no comércio. Acompanhando o carroceiro Alfredo Sell que transportava louças, ele administrava as entregas. Integravam a lista de principais clientes as  empresas  Fernando Tilp e Alfredo Boehm na Rua do Norte (atual Dr. João Colin) e Leopoldo Elling na avenida Getúlio Vargas.

Para prestar o Serviço Militar e  conciliar a instrução com o trabalho, Etelvino se alistou no Tiro de Guerra, uma  Instituição do Exército Brasileiro encarregada de formar reservistas. A formação do atirador é realizada no período de 40 semanas, com uma carga horária semanal de 12 horas, totalizando 480 horas de instrução. No Tiro de Guerra, o atirador deve permanecer por um período de 6 a 10 meses participando de atividades específicas das Forças Armadas, ao término do período o referido militar é licenciado das fileiras do Exército como Reservista de 2ª Categoria.

A invasão da Polônia pelo Exercito Alemão ocorrida em 1º de setembro do ano anterior e a declaração de guerra à Alemanha pela França e Inglaterra três dias depois, marcaria o início da 2ª Guerra Mundial. Mesmo que o Brasil se envolvesse no conflito e houvesse a convocação de reservistas, seria por demais remota a possibilidade de a convocação se estender a reservistas de 2ª Categoria, raciocinava Thomaz.

Em maio de 1940 o número de filhos chegava a 12, com o nascimento de um menino e duas meninas. Como a irmã mais velha já havia casado e uma menina havia morrido ainda criança ainda em São José, agora viviam sob o mesmo teto Thomaz, Maria Francisca e mais 10 filhos. Thomaz possuía planos ousados para a comercialização dos produtos da olaria. Decidiu por eliminar um gargalo representado baixo consumo de louças de barro em Joinville, onde a venda de vasos era o grande destaque. Diante da certeza de continuar contando com a ajuda de Etelvino, mesmo durante o período instruções no Tiro de Guerra,  optou pela execução do projeto de comercialização.

Natural da Ponta de Baixo em São José, atual Região Metropolitana de Florianópolis, além de bom oleiro, Thomaz  tinha bons conhecimentos de navegação à vela e a remo na baia Sul de Florianópolis.

Ao chegar no Boa Vista adquiriu uma canoa de um pau só, esculpida em garapuvu que usava em pescarias de fins de semana com amigos. A pequena embarcação usada para a prática do esporte da pesca  e o conhecimento adquirido nos deslocamentos à vela e a remo pelo rio Cachoeira, lagoa Saguaçu e baia Babitonga, foram determinantes para o sucesso na conquista de novo mercado para os produtos da olaria.

Com uma população de maioria formada por descendentes de açorianos que conservava a preferência pelas louças de barro como potes, bacias, leiteiras, panelas, caçarolas, pratos, panelas, marmitas, boiões, moringas urinóis, canecas e outras, São Francisco do Sul passou a ser o novo e promissor mercado. O planejamento para o transporte encontrava ainda algumas dificuldades e serem vencidas. Mesmo contando com a embarcação e o filho Etelvino para ajudar no remo, o caminho para transportar as louças entre a olaria e o porto, cerca de 1 quilômetro só podia ser percorrido a pé e com lama até as canelas. Para a canoa carregada percorrer a gamboa precisava de maré alta e só podia deixar o porto com o início da maré vazante. Era impossível conduzir a canoa carregada, a remo contra a força da maré.

As irmãs mais velhas trabalhavam na Têxtil Schmalz, no centro da cidade, início da rua Visconde de Taunay. Então a tarefa de transportar louças nas mãos entre a olaria e o porto ficou por conta de Thomaz, Maria Francisca, Etelvino e as crianças. Pelo menos uma vez a cada 15 dias, mal o dia começava a nascer, o caminho começava a ser percorrido por uma verdadeira procissão que incluía até crianças a partir de 6 anos. Com os pés descalços e atolados na lama e com uma peça pequena em cada mão as crianças ainda precisavam se livrar das ondas de mosquitos.

Assim que Thomaz e Etelvino partiam em mais uma viagem começava o suplício para Maria Francisca.
Preocupada com os dois viajantes do mar a bordo de uma pequena e frágil canoa carregada de louças ,ela se  ajoelhada diante de um quadro com a imagem de São Pedro, acendia velas e rezava pedindo proteção para o marido e o filho.

Os dois saiam cedo e voltavam sempre no fim da tarde trazendo barro da olaria Stock, matéria prima para a produção de louças e alimentos para a família,  resultado da troca por louças. Numa tarde de verão desabou um temporal com fortes ventos e chuva torrencial. Maria Francisca passou a viver os momentos mais apreensivos de sua vida. Caiu a tarde sem que ela tirasse os olhos do caminho do porto na sofrida espera por Thomaz e Etelvino. A noite escura como breu e a ausência  do marido e do filho levaram Maria  Francisca ao desespero. O que teria acontecido? Sem mais poder avistar o caminho do porto, passou a noite em oração e com os olhos fixos na imagem do santo protetor.

O dia amanheceu sem qualquer informação. Não havia telefone nem outro meio de comunicação para que a família tivesse pelos menos uma ideia do que teria acontecido.  Thomaz e Etelvino, como toda a família eram muito bem relacionadas com na pequena Boa Vista. Muitos amigos da família começaram a tomar conhecimento da sofrida expectativa e se aglomeraram em um banco de madeira debaixo de uma cerejeira existente na frente da casa. Depois da tempestade do dia anterior, o sol já brilhava e Maria Francisca estava aos prantos,  já perdendo as esperança  de voltar a ver o marido e o filho.

O que aconteceu com Thomaz e Etelvino, saberemos no próximo capítulo de Vida e Morte de um herói do 13 BC  - Postagens nas segundas-feiras.

Ary Silveira de Souza - Editor do JI Online





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